sábado, 6 de abril de 2013

OLHOS ABERTOS

Sabe aqueles dias em que o coração amanhece chorando, mas mesmo esse sofrer é reconfortante?

A dor da paixão perdida tão presente se fazia, que a necessidade de um novo alento dominava, levando à busca - eterna procura dos mal-amados - de algo diferente do todo-dia, talvez apenas para não ver a face que não se afastava da memória ou de um rosto novo que apagasse da lembrança, nem que por alguns momentos, a vida que, dia-a-dia, tinha jogado fora acreditando estar construindo e de repente assim, passando, encontrei uma beleza totalmente diferente do padrão que procurava. Não tinha nada a ver com o que incomodava, não parecia com a paixão que apertava o âmago, não era nada conhecida, mas encheu os olhos.

Dançar a noite inteira, rir, galante, cortês, cortejando e cortejado, namorado perfeito para a princesa que, encantada, sucumbia aos mágicos acordes das canções românticas e dançáveis que escolhia, fascinado com aquela presença deliciosa que ali flertando, mimosa, amenidades dizia, querendo partir, mas, agradada, contente, que dava a ficar, pedindo mais uma música.

E assim, nesse dançar e flertar, foi-se a noite e ao deitar, só, sono veio sem preocupações, como se Morfeu, completando o trabalho de Cupido, piedoso a alma envolvesse e desse relaxamento total.

Ao novo dia contemplar, eis que a dor que outrora o coração triturava amena veio, dando a impressão de consolo, como que lembrando que sem sofrer não se dá valor aos sentimentos, como que dizendo que o aperto
no íntimo era prova de vida e que a vida merecia ser vivida.

Visita, loucura enfrentada com arroubos de calor, um sorriso mais íntimo, uma carícia sutil, um passeio mais longo, novas palavras, ideias agradáveis, um conhecer e ser conhecido, deixar que o tato venha - todo um sonho se fazia realidade.

E nesse vai-e-vem, como em um carnaval de alegria, mais íntimos ficamos até que, sem nem sequer sabermos se podíamos ser vistos, noite se fez e acobertados pela noite amantes viemos a ser.

Pode acreditar, não sabia mais quem eu era, não conseguia lembrar que algo doía, paixão lancinante e alucinante, doce e envolvente era apenas o que conseguia sentir.

Então, naqueles mares azuis dos olhos daquele anjo louro mergulhava, com ânsia e sofreguidão há tanto sem exercício e quanto mais a olhava, mais queria ver e tanto mais via mais a queria sentir e a sentindo mais queria mergulhar dentro do seu ser, corpo e alma, naquela roda-viva do amor que se descortinava.

Novamente veio o fascínio da véspera e docemente envolvido pelo carinho que me dava, com ternura pelo seu cheiro inebriado, do seu calor provei. Temperatura exata, qual luva em mão certa, casaco perfeito em ombros no frio, encaixe completo e bem feito de seres maravilhados, louco, muito louco, com seu amor estive até que, no depois, palavras maliciosas a sussurrar e sentir, com tanto prazer, até a vida comum nos alcançar, malevolamente, como se para dizer que todo o sonho era uma necessidade mútua de ser feliz, como felizes o fôramos.

Hoje me vem essa lembrança alentadora, tão forte, que dá até vontade de voltar àquele momento e espaço para tentar reter o tempo ou, ao menos, o seu cheiro...

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